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domingo, 13 de novembro de 2022

Caminhada da Seca em Senador Pompeu celebra devoção e homenageia retirantes de 1932



Foto Fernanda Barros/ O Povo
A chuva que caia às 4 horas deste 13 de novembro não impediu que centenas de pessoas começassem a se reunir em frente à Paróquia Nossa Senhora das Dores, no município de Senador Pompeu. Pelo contrário, parecia mensageira de que a restrição de direitos básicos e as mortes não serão repetidas. Iniciava ali a 40ª Caminhada da Seca.

“Faz parte da história da minha família, faz parte da história da cidade. Venho a pé e não sinto nada. Vim mais minha neta, filhos, noras…”, basta aparentar curiosidade sobre a caminhada que Alzira Lucinda Moraes de Lima discorre sobre o Campo de Concentração de Patu e o cemitério das santas almas. Aos 70 anos, ela afirma ter feito parte de todas as romarias realizadas a cada segundo domingo de novembro desde 1982.

Alzira é uma dos 13 filhos de Mário Antônio de Moraes, sobrevivente do Patu. “Ele veio para cá com oito anos e cavava aqui as levadas para enterrar as pessoas. Quando era de noite, ele conta que não conseguia dormir com as lembranças”, reconta a partir das histórias que aprendeu aos 11 anos de idade.

São cerca de quatro quilômetros entoando cânticos e vencendo aclives desde o Centro do município até o cemitério simbólico. O local marca o espaço onde documentos e relatos atestam terem estado as covas coletivas. Não é certo o número de vítimas da seca e do descaso do poder público; uns cravam 1.637, outros estimam de 4 mil a 10 mil óbitos.

Os católicos da região referem-se aos mortos do Patu como um “santo coletivo”. As celebrações para essa santidade formada por milhares de almas mantêm viva a memória dos que morreram nos campos de concentração do Ceará e atraem milhares de devotos todos os anos. Nesta 40ª edição, a estimativa é de 8 mil caminhantes.

Entre eles estava Maria Eloísa Bezerra, que há mais de duas décadas percorre o caminho de fé e memória. Ela fez questão de levar o filho Antônio Gabriel, de 7 anos, para sua primeira romaria. “Minha avó, Maria de Lurdes, foi uma das sobreviventes daqui e a gente leva essa história para as gerações futuras. Hoje veio minha mãe, minhas irmãs, até meu irmão de São Paulo”, diz.

Com informações do O Povo.