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sábado, 6 de novembro de 2021

Marília Mendonça deu voz feminina ao sertanejo e mostrou que a mulher não é a vilã de todas as histórias de amor



Não morreu somente uma cantora na queda daquele avião. Não somente uma cantora, mas uma mulher chamada Marília Mendonça, aos 26 anos de idade. E, aos 26 anos, se impôs num mundo inteiramente masculino e tantas vezes machista. Impôs sua palavra feminina. Especialmente nessa área da música sertaneja dominada inteiramente por homens, em duplas que cantam, quase sempre, o amor perdido, a desilusão, o sofrimento, a tristeza… Tudo por causa de uma mulher. Pois surgiu então essa mulher chamada Marília Mendonça que, já na sua primeira composição, aos 12 anos, mostrou que a história não é bem assim. A mulher não é a vilã de todas as histórias de amor desfeitas, especialmente por traição. Não. O homem também faz parte desse universo de desamor em que a vítima é a mulher.

Marília Mendonça colocou isso no papel e na música, fez o Brasil ouvir a sua voz. A voz feminina, quase sempre – ou sempre – abafada por atitudes masculinas brutas, que fazem da mulher somente um objeto de decoração. Não é assim. Melhor dizendo: não pode ser assim. E com ela, não era assim. Por isso, essa carreira meteórica, que mostrou a que vinha. Pena que sua carreira tenha sido interrompida de maneira irreversível. Por esse motivo, o Brasil está de luto. Fazia tempo que não se via essa comoção. Pode-se notar que, nesse grande público, que chora e acena lenços, a maior parte de mulheres e adolescentes que estão descobrindo a vida com outro olhar. Marília Mendonça não se encabulou de cantar com a vestimenta que mais gostava, sem se importar com comentários. Nem chegava a ser uma provação. Antes, era uma maneira de ser, de existir, num mundo perverso em que a mulher é quase sempre alguém que existe para obedecer o homem.

Daí ver-se, no Brasil, tantas mulheres assassinadas por maridos, ex-maridos ou parceiros, como se sua vida não lhe pertencesse. A vida da mulher pertence, sim, à mulher. E, dessa vida, ela tem o direito de fazer o que bem entender. A mulher não tem dono, como pensam muitos ainda nessa perversidade que se vê em todo lugar. Marília Mendonça nasceu para ser essa mulher líder de movimentos femininos. Com ela, a mulher começou a compreender determinadas circunstâncias masculinas, especialmente as meninas adolescentes que estão ainda descobrindo a vida. No vídeo de uma gravação que ela fez com Gal Costa, é possível notar o olhar assustado de Gal diante de Marília Mendonça. Gal se rendeu àquela voz que tinha uma verdade e se passada adiante, pela mulher.