Mais de
mil pessoas foram assassinadas no Estado do Ceará em 2018. O número exato, até
o último dia 15, é de 1.089 pessoas vítimas de Crimes Violentos Letais
Intencionais (CVLIs), que englobam homicídios, latrocínios e lesões corporais
seguidas de morte. No ano passado, o total de vítimas foi de 5.133. Em 2016,
houve 3.407 CVLIs. A crescente violência vista por meio dos números oficiais da
Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) modifica a rotina das
milhares de famílias das vítimas e de órgãos que prestam auxílio para os
parentes.
Passada a morte, restam aos parentes e amigos buscar acolhimento
e Justiça. Os reiterados registros de crimes bárbaros fizeram com que, o
programa Rede Acolhe, da Defensoria Pública do Ceará, tivesse de reordenar suas
atividades a fim de atender a alta demanda das vítimas da violência no Estado.
Criada ano passado com o objetivo de promover a assistência
jurídica e psicossocial aos familiares das vítimas de CVLIs ou de tentativa de
homicídio, a Rede já auxiliou, pelo menos, 60 famílias. A defensora pública Gina
Moura, responsável por coordenar o programa, explica que o acúmulo de
assassinatos, principalmente desde o início deste ano, fez com que os
servidores ainda não tivessem acesso às dezenas de parentes.
A frequência de crimes bárbaros interfere diretamente no
trabalho dos defensores públicos. Devido a grande procura de famílias de
vítimas, o órgão ainda não conseguiu chegar aos parentes das sete pessoas
executadas na Chacina do Benfica.
"Nós começamos esse ano sem nenhuma quebra (na sequência)
de violência. Teve a Chacina de Cajazeiras, em seguida teve o episódio em
Itapajé (quando dez presos foram mortos), o triplo homicídio no Parque Leblon
(três mulheres foram torturadas e executadas) depois a Chacina do Benfica. Cada
vítima a gente precisa trabalhar com muita responsabilidade. Estabelecemos uma
metodologia de trabalho e tentamos reordenar as atividades. A realidade mostra
essa necessidade e é algo que angustia a nossa Instituição", disse Gina.
Peculiaridades
A coordenadora da Rede Acolhe ressalta que o perfil dos mortos
nos últimos crimes de grande repercussão no Estado foge do perfil
estereotipado. Nos últimos episódios de matança, muitos dos assassinados sequer
tinham passagens pela Polícia, como visto nas chacinas da Cajazeiras e Benfica.
"Muitas dessas vítimas não tinham perfil de criminoso, e
independente disso tratamos com respeito a cada uma delas. Vítima é vítima, e
elas precisam ser respeitadas. Cada chacina dessa tem uma demanda muito
específica. Todas as vidas importam, mas cada uma tem peculiaridade própria.
Com relação às vítimas das Cajazeiras, estamos agindo em parceria com a
assistência social do Município. Iniciamos atendimento no dia seguinte ao
episódio. O que posso dizer é que algumas dessas famílias estão desamparadas
porque perderam suas maiores referências", contou a defensora pública Gina
Moura.
Para a defensora, a proporção que a criminalidade tomou resultou
em uma maior necessidade de proteger as famílias em vulnerabilidade e
testemunhas dos crimes letais. "Aumentou o número de pessoas que precisam
de proteção, o que é a nossa prioridade. É preciso que elas possam prosseguir.
Nós precisamos agir de forma articulada e há uma falta de estrutura e de
profissionais em números suficientes", afirmou.
De acordo com a Defensoria Pública do Ceará, o acesso à Rede
Acolhe pode ser feito por meio de encaminhamento dos assistentes sociais de
Fortaleza, assim como cada família pode procurar diretamente pelo programa. A
assistência prestada está vinculada ao Núcleo de Atendimento ao Preso
Provisório e Vítimas de Violência (Nuapp) do órgão.
Na tarde de ontem, a reportagem entrou em contato com a
assessoria da SSPDS a fim de obter informações sobre as ações voltadas à
redução dos CVLIs. Porém, até o fechamento desta edição, não havia recebido
nenhuma resposta.
FONTE-DIÁRIO DO NORDESTE