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quinta-feira, 5 de maio de 2016

Dia das mães

Às vésperas do Dias das Mães, no mês santificado pelo Ano da Misericórdia, o ecônomo da Diocese de Crato, Padre Joaquim Ivo Alves dos Santos, solicitou à Comunidade Missão Resgate, dois animadores para uma celebração especial num lugar onde ninguém quer estar.

Por um intricado labirinto de chão batido, eles partiram na manhã de hoje, 5 de maio, em direção à Cadeia Pública de Crato, onde estão os dramas, dores e angústias de mais de 183 presos, entre homens e mulheres. Filhos que perderam suas mães quando foram para o cárcere, mães que não sabem o que acontece com os filhos enquanto cumprem pena.

Da entrada do presídio para a ala dos detentos são doze grandes. Num espaço de aproximadamente quinhentos metros, cento e dez presos ficam no que os agentes chamam de “posição de confere”, com os braços para trás e a cabeça abaixada. Na manhã desta quinta-feira, dia 05 de maio, quando o Padre Joaquim Ivo, retirou, de uma bolsa azul, a batina branca e a Liturgia Diária, eles também curvaram-se. Mas não o fizeram só pelo hábito. Fizeram-no porque tinham esperanças. E, mais do que isso, simbolizaram um desejo de mudança, sinalizado, sobretudo, nas paredes amareladas, na entrada das celas, com frases remetem a Deus e a Cristo: “É luz. É fiel”.

Ao ver o padre paramentando-se, enquanto missionários tratavam de ajustar o som, os internos que estavam próximos à grade, puseram a camisa às pressas e, com as mãos sobre o peito, permaneceram recolhidos. Outros, sentados em bancos de madeira ou subindo à mesa onde fazem quatro refeições diárias, elevavam as mãos, como que em forma de prece. Um deles, retirando o rosário do pescoço, entregou-o ao padre para que fosse abençoado. Outro, com pedaço de papel nas mãos, escrito a lápis e em letras de forma, pediu orações pela alma do avô recém falecido.

Quando Padre Ivo perguntou os motivos que os levaram a estar ali, a resposta veio sem titubeios e em forma de eco: “drogas, assaltos, ‘querer aquilo que é dos outros’”. “Mas Jesus ama cada um de vocês. Nenhuma ovelha está perdida. Não se precipitem. Confiem”, confortou o sacerdote.

Do outro lado, dirigindo-se à ala feminina, onde vivem vinte e seis mulheres, o padre também quis saber: “E os pedidos de vocês, hoje, de modo especial?”. A resposta vem de longe e com voz firme: “Quero sair daqui pra ver minhas filhas se formando…”.

A todos os detentos o padre entregou um exemplar pequeno da Bíblia e um terço. (Foto: Patrícia Silva)

Misericórdia que rompe as grandes da vida

Ao estabelecer a passagem por uma Porta Santa como um sinal concreto de encontro com a Misericórdia do Pai, o Papa Francisco lembrou àqueles que, por motivos variados, não podem ir até um destes lugares, justamente pela falta da liberdade.

Como se estivesse em sintonia com o Santo Padre, um dos detentos, João Batista, tomando o microfone, fez questão de agradecer a solicitude da Igreja Diocesana, cujo plano pastoral para os próximos quatros anos, não é outro senão o de estar “em saída”. “A gente precisa de ouvir palavras sadias, já que a gente não pode ir pra rua ouvir. Essas visitas traz a honestidade pra cadeia. Se eu errei, eu tenho que provar para os outros que eu errei. Com a presença do padre aqui sinto meu coração libertado. Nós ‘tivemos’ boas e alegres esperanças.”, disse.

A visita também foi acompanhada pelo advogado Hermano José de Sousa, que integra a Comissão de Direitos Humanos da Universidade Regional do Cariri, URCA, o Conselho da Comunidade, órgão que tem como missão fiscalizar o cumprimento da lei dentro das cadeias, da garantia dos direitos humanos à execução correta das penas, e presidente da ONG Nova Vida, projeto social que atua na formação da cidadania de crianças e adolescentes. Ele conta que, brevemente, graças a uma parceria firmada com o curso de Agronomia da Universidade Federal do Cariri, ações como o plantio de hortas, estará sendo desenvolvida na intenção de reintegrar os detentos à sociedade.

Fonte diocese de Crato